sábado, 22 de outubro de 2011

Alimentação para Papagaios

      Antes de começar a descrever o que penso sobre alimentação para papagaios devo alertá-los que estou longe de ser especialista em aves. Minha experiência se restringe a 1,5 ano de estágio no viveiro Manequinho Lopes na recepção de animais selvagens. Esse período foi muito rico para mim devido ao convívio estreito com muitas espécies de rapinantes, psitacídeos e passeriformes, observando sua alimentação e comportamento. Também um estágio com meu amigo, colega de profissão e hoje veterinário do zoo de Bauru, Lauro Soares, em um criadouro particular de animais silvestres em São Roque. Um pouco na clínica (não como veterinária, mas observadora), vendo os malefícios de uma alimentação desbalanceada para esse tipo de ave. Não que outras aves não sofram com problemas de alimentação, mas os papagaios são vítimas muito mais frequentes devido a uma série de mitos sobre eles, pelo modo que são adquiridos, e as orientações que os "compradores" recebem do "fornecedor".  A pessoa que adquire um animal desses no mercado negro tem medo de ir a um profissional pedir orientações e acaba acreditando e perpetuando os tais mitos alimentares. Eles têm o medo de ser denunciado por portar um animal ilegal.
      Primeira informação: veterinário algum se prestaria ao serviço de denúncia, pois o compromisso dele é com a saúde do animal. De forma alguma incentivando a prática do tráfico, peço que as pessoas pensem muito antes de adquirir um papagaio ou qualquer outro animal de um traficante. Nenhuma vontade pode ser maior que o cuidado pela liberdade e bem-estar de um animal. Saber dos males pelos quais passam os animais traficados e mesmo assim comprar um deles porque os legalizados são muito caros e você não tem dinheiro, desculpe a franqueza, mas é apenas a confirmação do tamanho do egoísmo humano, reflete o quanto ele preocupa-se consigo e com suas próprias vontades e não pensa no sofrimento alheio e no respeito à vida e à liberdade. Se mesmo assim, você, ingenuamente tenha adquirido um animal de procedência duvidosa, rogo que vá a um profissional veterinário que trabalhe com aves, ouça as broncas, mas dê ao animal o tratamento correto, pois muitas vezes ao correr com ele doente depois de muitos erros primários, possa ser tarde demais. Muitos animais que chegam doentes na clínica veterinária são por fatores de erro de manejo, ou seja, a pessoa não sabia exatamente como tratar o animal, acreditou nos mitos e provocou o sofrimento no mesmo, muitas vezes por anos, como o cágado que recebemos certa vez no viveiro. A vida daquele animal, 20 ou 25 anos, foi debaixo da cama da antiga tutora, comendo manga e alface, pois era simpatia para bronquite. Isso pra mim não é crença popular e não merece respeito... Isso é mau trato e no mínimo merece uma bela punição.






      Outra informação que quero passar é sobre a alimentação dos papagaios. Papagaios são aves, psitacídeos, ou seja, na natureza eles voam e comem castanhas, sementes, frutas. Para isso que usam seu bico forte e curvado. Então qual a razão para cortarmos todas as penas desta ave, colocá-la numa gaiola ou dar-lhe café? Ou macarrão? Ou ainda alimentar o filhote com fubá e leite???? Aves não são mamíferos, não precisam e não devem tomar leite. Para cortar as penas de seu papagaio, leve-o ao veterinário, existe um jeito certo de fazer isso.
      Na natureza, uma ave dessa voa muito e fica praticamente o tempo todo procurando o que comer. Dessa forma ela determina a variabilidade da dieta e faz muito exercício.
      Quando elas estão em casa, sem tanto exercício, deve-se primeiro pensar que elas não precisam de tantas calorias como na natureza, senão podem engordar muito, além de ficarem com um mal no fígado chamado esteatose. Isso acontece quando existe muita gordura na dieta de um ser e pouco ou nada de outros nutrientes, suas células hepáticas acabam por sofrer degeneração (morte) por excesso de gordura. Um fígado esteatótico é aquele do frango que compramos no mercado, um fígado pálido e friável (esfarelento). Essa condição leva a inúmeros outros sintomas, como problemas nas penas e facilidade de apresentar outras moléstias como pneumonia. Em resumo, o sistema imunológico da ave fica debilitado e ela fica predisposta a uma série de moléstias. Tudo por um simples erro de manejo que poderia ter sido evitado com uma visita ao veterinário. Um biólogo também pode ajudar nessa questão alimentar.
      Atualmente existe uma série de rações comerciais no mercado, mas nós da Bicho prezamos sempre por manter o direito do animal ter uma dieta natural, fresca e bem variada.
      Na sequencia, listarei ingredientes que podem e devem estar presentes na dieta de um papagaio, lembrando que não colocarei quantidades, pois não tenho conhecimento técnico pra isso. De qualquer forma, se a dieta do seu papagaio se restringe a amendoim, girassol, café, macarrão e biscoito, trocando isso pelos ingredientes abaixo já será um grande avanço.
      Peço também aos leitores mais esclarecidos, que se tiverem alguma informação mais exata e puderem compartilhar, estarão ajudando vários animais a evitarem problemas simples de alimentação.
      Se também localizarem algum erro conceitual em meu texto apontem, estamos aqui para aprender.
      É interessante sim que papagaios comam sementes oleosas como castanhas, amendoim e girassol, mas elas devem ser oferecidas de uma a duas vezes por semana no máximo. Se esse tipo de semente estiver sempre no meio da comida, o papagaio, que não é bobo nem nada, vai separar somente elas para comer primeiro e não comerá as outras.
      Das frutas não é interessante oferecer abacate, pois ele também tem muita gordura e uma toxina que não sei se age nas aves também (papo para os especialistas). Vá oferecendo as frutas uma a uma do grupo das doces (manga, banana), das cítricas (laranja, mexerica), oleosos (côco) e observe as que ele mais gosta, anote e mais tarde varie os tipos durante a semana. Faça o mesmo com os legumes, ofereça jiló, pimentas, pimentões. Ofereça verduras, menos alface e faça o mesmo. Se você gosta de dar algo diferente para seu papagaio, pode dar pipoca sem sal, sem exageros, feita sem muito óleo, com o mínimo necessário. Pode tentar oferecer outros grãos, crus e cozidos sem sal e sem tempero.
      Uma terceira coisa é lembrar do enriquecimento alimentar e não dar tudo picadinho num potinho. Pense que na natureza esses animais fazem muito exercício e é indispensável que nós possamos providenciar ao menos alguma atividade para eles. Então se gostam de côco, dê com a casca, quebre o côco e dê uma parte da polpa grudada na casca. As frutas, dê a porção diária em algumas refeições (senão estragam e juntam insetos) com as cascas. Então se a porção diária é 1/3 de banana, corte a porção ao  meio com casca e ofereça. O mesmo pra maça, manga, etc. Alimentos mais fáceis de comer podem ser colocados dentro de canos de PVC furados para que a ave se esforce pra pegar. Liberte sua imaginação e só lembre que cada "brinquedo" novo deve ser introduzido sob supervisão, ou seja, fique admirando sua ave manipular o novo objeto para ver se não oferece a ela riscos. Cuidados especiais com materiais que soltam pedaços que possam ser engolidos ou que possam fazer lascas pontudas ou com corte.
      Dessa forma você terá um animal muito mais feliz e saudável.



      Participem! :)
      Abraços
      Equipe da Bicho.

6 comentários:

  1. Boa tarde!
    Por favor, preciso muito de uma orientação para não fazer nada errado. Caiu do meu telhado há mais ou menos 1 mês 3 maritacas ou periquitos verdes ainda nascendo as peninhas, como os pais não desceram no quintal para alimentar fiquei com medo que morressem de fome, dei papinha da Alcon na seringa, há uma semana eles começaram a comer frutas, mamão e manga, e um pouquinho de ração, como há uma semana eles começaram a voar, fizemos um viveiro bem grande e colocamos galhos de árvores, hoje eles estão voando muito bem neste viveiro. Nossa intenção é solta-los, em nosso bairro existem muitas destas maritacas e muitas árvores, e não queremos ver nossos bichinhos presos mesmo em um espaço grande. Minha pergunta é com quanto tempo posso soltar? Será que eles conseguem por conta própria comer o que encontra na natureza? Temos medo de demorar muito tempo para soltar e eles não se adaptarem na natureza. Se souber me avise porque estou com muitas dúvidas e meu coração preocupado se vou soltar eles para morrer, infelizmente vou sofrer muito quando soltar e queria fazer o melhor. Se puder me oriente.

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  2. Rosana,
    A soltura de animais que foram desde muito cedo criados na mão é muito complicada. Justamente pelo fato de não terem aprendido a localizar e buscar seu alimento não é possível saber o que poderia acontecer com eles.
    O outro lado é que não seria muito interessante manter esses animais em cativeiro pelo risco de alguém denunciar. Desde um vizinho até uma visita ou alguém que vá prestar serviço na sua casa e não conheça a história desses animais (soltos poderiam morrer).
    Lá no Ibirapuera tem a divisão de veterinária que recepciona animais da fauna paulista principalmente. O pessoal da veterinária os recepciona, os da biologia reabilitam e soltam depois de anilhá-los. Trabalhei lá 1,5 ano já tem um tempo, então o melhor seria mesmo ligar antes de qualquer coisa.
    Enquanto isso, verifique o quanto eles buscam o alimento, deixe cada vez menos óbvio e observe como eles se comportam no viveiro. Utilize canos de PVC e pedaços de galhos furados para dificultar o acesso aos alimentos. Você ainda pode ir atrás de árvores frutíferas, pegar galhos com frutos maduros e colocar lá ao invés da fruta cortada. Também pode pegar coquinhos. Isso tudo vai depender da facilidade de acesso a esse material de onde você mora.
    Onde você mora tem outros periquitos verdes?
    O que acha dessas dicas? Se não ajudaram muito, pergunte mais, vamos enriquecer esse espaço e ajudar outras pessoas.
    Obrigada pela participação!

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  3. Olá Alessandra,

    Muito obrigada por sua resposta, eu consegui alguns cachos de coquinhos que eles adoraram e devoraram na hora, também alguns galhos com flores, gostaram mais da dama da noite. Abrimos o viveiro que fica dentro de uma sala bem grande no alto da casa e eles começaram a voar cada vez mais alto e mais rápido, fizemos isto para eles fortalecerem a musculatura das asas.
    Fizeram diversas manobras no ar que nos deixaram bem confiantes em abrir a porta da sala para eles irem embora. Dois deles foram embora e voaram bem alto, e acredito que tenham já se incorporado a outros bandos, no bairro onde eu moro existem dezenas deles pelas árvores.
    Restou somente 1 agora, que já voa bem, está comendo folhas e flores e um pouquinho de mamão que já reduzi a quantidade mas não tirei totalmente porque não é sempre que consigo os coquinhos e folhas que ele gosta, experimentei algumas que ele não aprovou rsrs, mas ele não vai embora... já saimos no quintal e chamamos, já colocamos galhos saindo de dentro de casa para fora e ele passa bem longe disto.
    Ele voa bastante e está bem grandinho, mas passa longe das portas e janelas e olha que elas são bem grandes, a sala é toda de portas e janelas de vidro bem ampla e só fechamos a noite para dormir.
    Acreditamos que ele esteja inseguro, e vamos continuar a estimular a sua saída.
    Realmente apesar de sentirmos muito amor por ele não temos coragem de mante-lo preso, é muito bonito ver eles soltos pelo bairro fazendo aquele barulho sobre as árvores.
    Não temos coragem de assustá-lo ou persegui-lo para que saia na força para fora, gostariamos que o processo fosse natural.
    Gostei muito das suas dicas e agradeço muito a delicadeza de responder o meu e-mail.
    Caso tenha alguma dica sobre como fazer ele sair naturamente ficaria muito feliz, como já disse não porque não gostamos dele ou pela fiscalização, mas porque acreditamos que ele será mais feliz vivendo em liberdade.
    Um grande abraço,
    Rosana

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  4. ROSANA! Fiquei emocionada com seu comentário! Você não sabe como fico feliz com sucessos como esse!!!
    Jamais aconselharia você a forçar o que ficou a sair, não seria bom mesmo como intuitivamente você já concluiu!
    Dê mais um tempo pra ele, caso realmente não saia (não sei a quanto tempo você está esperando), posso sugerir outra coisa sim! Sou homeopata e posso lhe auxiliar, ok?

    Abraços

    Sua maior prova de amor com eles foi realmente a liberdade!!!

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  5. Olá,
    É com lágrimas nos olhos que escrevo estas linhas.
    Finalmente nosso bichinho criou coragem e se aventurou mundo afora... por conta própria ele resolveu sair. Ficou agora a saudade, as fotos e videos e a certeza que ele está muito feliz em estar em liberdade junto com os da sua espécie.
    Agradeço muito por sua atenção e conselhos que nos foram muito úteis e espero ter ajudado com meus comentários outras pessoas que passaram pela mesma situação que eu. E a todos eu falo que Deus deu asas tão lindas para as aves que seria um pecado proibir eles de usarem.
    Um grande abraço,

    Rosana

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  6. estou com lagrimas nos olhos com o relato que acabo de ler,e vejo o quanto sou covarde,meu marido me presenteou com um papagaio bem pequeno,mas não tenho coragem de solta lo,ainda mais pq sei que na cidade onde moro era só ele sair e acharia outro dono,mas ele só fica preso qd não estou em casa,alimento com fubá e leite pois não sabia que não era aconselhavel,mas agraddeçoi mt td o que li hoje aqui.obrigada

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