sábado, 23 de julho de 2011
Punições positivas ou negativas? - As famosas e contraditórias BRONCAS.
Cão fofo não é? Essa cara que fazem quando levam uma bronca...
Assunto controverso sim! And I LOVE IT! :)
As broncas, ou mais tecnicamente chamadas PUNIÇÕES, são estímulos desagradáveis que aparecem a fim de extinguir um comportamento indesejável.
Se pensarmos na natureza e na seleção natural (querido e também controverso Darwin) podemos imaginar aqui algumas situações:
Uma ninhada desmamada de cães - 12 cães, 1 corajoso e 11 tímidos.
Então eles nasceram no meio do matinho num terreno e depois dos seus 3 meses começaram a explorar os ambientes. Cheiram daqui e dali, os tímidos seguindo o corajoso que se jogam sobre as minhocas para atacá-las que exploram a grama para brincar.
Cai um pedacinho do muro e lá fora é um mundo novo ao qual eles não têm memória de aprendizado (até os 3 meses quando aprendem o que é seguro e o que não é seguro e muito mais coisas). O mais corajoso logo vai, curioso que é, explorar o mundo lá fora. Novos odores, novas cores, novos movimentos e novos seres! Muitos barulhos que ele nunca ouviu. Os tímidos se assustam e ficam do lado de dentro do muro só olhando. De repente o irmão corajoso vai até a rua enfrentar aqueles monstros brilhantes e rápidos e UI! Tragédia! Lá se vai o filhote corajoso. Ele não poderá se reproduzir e então não passará pra frente seus genes de coragem e dessa forma, com perigos (punições) extremos como este, dificilmente um cão que não tenha medo (cautela) dos carros, sobreviverá numa cidade cheia deles.
Claro que cães não morrem atropelados apenas por sua coragem, mas eu quis dar um exemplo de como uma punição pode ser tão extrema a acabar com a vida do animal.
Não vamos então falar de animais, mas de humanos.
Nós estamos vendo uma cena em que há uma linha de trem, uma cancela e um sino. O sino toca e a cancela fecha quando o trem vem vindo, os carros devem respeitar e parar até que o trem passe. Jovens corajosos decidem brincar com a vida (uma coragem patológica, pois eles CONHECEM o perigo) e passar mesmo com a cancela fechada tirando uma fina do trem e acabam mortos.
Não é pra se espantar, pois vemos isso diariamente nas ruas, nos semáforos, nos cruzamentos.
Para mim, apenas o fato de existir uma possibilidade de colocar alguma vida em risco de injúria ou morte já é suficiente para que eu saiba o que fazer e o que não fazer. Somente o fato de saber que roubar um banco pode me colocar na cadeia e prejudicar uma série de pessoas já é motivo para que eu não o faça. O meu respeito pela vida dos outros jamais me permitiria dar uma rasteira num idoso que vende balas apenas para roubá-las porque não tenho dinheiro para comprá-las. Eu poderia dar uma série de exemplos aqui de como as circunstâncias que criamos podem nos dizer (humanos mesmo - aprendizado por observação a todo vapor) se aquela atitude é ou não segura (do ponto de vista físico, sentimental, moral, etc). Em poucas palavras: o mundo nos prega broncas (punições), às vezes por estímulos introduzidos (positivas) ou benefícios retirados (negativas).
Então dizer que uma punição é positiva não significa que ela é cool! A Punição é boa... NÃO! A Punição positiva, de agora em diante P+, é uma condição em que introduzimos um estímulo desagradável (também chamado aversivo) para extinguir um comportamento. EXEMPLOS:
1 - Semáforos: Num dia comum, caso ultrapassemos um sinal vermelho, muito provavelmente bateremos o carro recebendo uma BELA P+ e outras possíveis punições negativas (mas calma!).
2 - Caso, você meu amigo do sexo masculino, decida bulir com a esposa de outro e seja descoberto, certamente levará uma surra, o que é outra bela P+.
3 - Crianças soltando pipa com cerol, enrosca em fio de alta tensão levam um choque elétrico, P+.
4 - Seu bebê de um ano, aprendendo a andar e descobrindo coisas, enfia um objeto metálico na tomada P+.
É interessante notar que, menos no último caso, existem muitas pessoas que ainda assim fazem o que não podem fazer apenas na esperança da P+ falhar e obviamente isso só acontece porque a P+ FALHA! Se ela fosse constante e certeira... duvido. Outra coisa também: porque a pessoa bebe e passa mal de soltar as tripas e ainda assim continua bebendo? Porque ela passa mal muito depois de ter bebido e a festa que acontecia bem na hora foi tão legal! Então continuo bebendo pela festa mesmo que me custe o bem-estar mais tarde (guardem essa informação) P+.
Um exemplo canino: Se o cão está em casa sozinho, morde um fio elétrico e leva um choque: P+!
A idéia que eu quis passar de P+ é que ela está inserida em nosso cotidiano e varia em intensidade da ineficaz à mortal, passando pela eficaz e pela traumática aí no meio. Tudo depende apenas de seu tipo e intensidade.
Quando a P+ passa a ser apenas uma ameaça ela pode cair no descrédito (pensem nos exemplos que eu dei) e ela é mais efetiva quanto mais frequente, no tempo e intensidade certos. E quando elas precisam de um objeto que as represente (radares, por exemplo ou suas placas de aviso) fica mais ineficaz ainda. No caso dos radares fotográficos podemos pensar que o flash é uma P+, pois é um sinal de que coisas bem desagradáveis acontecerão (dependendo da situação, é claro). Quanto maior a incerteza de que a punição vai ocorrer, maior sua eficácia, sendo a P+ de alta frequência e no tempo e intensidade corretos, como eu já disse.
Chega de P+ e agora passamos às punições negativas, a partir daqui chamadas P- e que não são as punições más e sim as punições em que tiramos um estímulo agradável, por exemplo não deixar o filho que não ajuda com as tarefas domésticas jogar seu video game.
Então não dar atenção ao cão que não obedece é uma forma de P-. Ao contrário da P+, a P- não pode falhar nunca, pois em sua falha o ser humano ou o animal será RECOMPENSADO! Então no caso do seu filho folgadão, se ele tem uma forma de jogar o vídeo game sem que você saiba ele será recompensado tanto pelo jogo em si como pela vitória de fazer algo que é proibido (quem já foi adolescente sabe o quanto isso vale!). Ou então seu cão que não deve ter atenção quando acontece isso ou aquilo de errado não tem SUA atenção, mas seu marido distraído acaba olhando pra ele no momento em que fez a bobeira, Bingo! Já era a punição, pois ele foi recompensado naquele momento. Claro que se os erros não forem frequentes, acontecerá apenas um atraso nos bons resultados, mas se isso acontece com frequencia, a tal P- não servirá pra o que deveria se prestar.
MAS de nada adianta discutir punições se não discutimos os indivíduos. Entretanto, digerir estas informações mandando perguntas, críticas e/ou sugestões é uma etapa que antecederá o próximo post, no qual falarei sobre INDIVÍDUOSXPUNIÇÕES.
Obrigada pela atenção
Alessandra - Equipe Bicho
Postado por
Alessandra Caprara
às
18:09
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"Quanto maior a incerteza de que a punição vai ocorrer, maior sua eficácia" - pode explicar isto Alessandra, a ciência da aprendizagem diz exactamente o contrário
ResponderExcluirHEHEHE 3... 2... 1... para sua participação especial! Obrigada por prestigiar Claudia! Pois bem, pense em radares fotográficos para aplicação de multas para velocidade (não sei se isso é utilizado aí, mas aqui é comum). Atualmente temos uma legislação que obriga o governo a inserir uma placa de aviso antes de cada radar, o que provoca em todos os motoristas uma sensação de segurança, pois quando virem a placa apenas devem diminuir sua velocidade e depois voltam a ultrapassar o limite estabelecido sem cerimônia. Agora se não existissem as tais placas e ninguém soubesse onde a tal punição pudesse estar (incerteza) certamente todos teriam mais cautela com sua velocidade.
ResponderExcluirComo as recompensas, se você tem uma condição de 100% de P+ e sua retirada brusca, teremos também um problema aí não acha?
A incerteza sem padrões não leva o indivíduo a aprender a "burlar o sistema". Isso com a P+, pois com a P- é o contrário como eu disse já que a ausência da punição leva à recompensa então essa afirmação seria completamente inadequada. Como também essa afirmação não funciona para comportamentos auto-recompensatórios em que utilizamos punição despersonalizada, a não ser que a pessoa se contente em ter uma casa cheia de objetos que representem e indiquem a punição.
Nos casos caninos: o uso da P+ não é eterno e não deve ser, por isso a incerteza é necessária. Sensibilizo um aviso de voz (NÃO) ou algum outro sinal que signifique "PARE ISSO! ERRADO!" e com o tempo o estímulo aversivo inserido passa a ser cada vez mais desnecessário sendo que o tal sinal representará para o animal a frustração e algo desagradável (associado a um bom treinamento de recompensas anterior, o aviso fica cada vez mais potente, pois a frustração é cada vez maior). A punição positiva usada por quem não entende por muito tempo, acaba por ser dessensibilizada ou utilizada de forma exagerada.
É neste caso que a minha frase está inserida.
Tenho um cachorro que pula em cima de carros e motos na rua (e tb n gosta d crianças). Já tentei mil vezes simplesmente ignorar, jah tentei trancos, jah tentei me antecipando ao comportamento e dizendo nao, jah tentei dar petiscos quando carros viessem (soh que ele nao aceita petisco na rua)... enfim.. jah tentei algumas tecnicas.
ResponderExcluirRecorri a um adestrador que me disse que nao sabia como agir com ele sem ser no controle físico (punição física com "toques"). Disse que assim nao queria que se fosse dele levar porrada, levaria de mim e que eu nao queria dar porrada nenhuma nele. Enfim.. eu nao sei direito qual o estimulo (se de medo, ou de caça) que ele tem, mas essas P+ e P- nele, nao funcionaram.
=(
OOOOIIII Aline!
ResponderExcluirEntão... na verdade as Punições em geral são, digamos, o que apara as arestas no treinamento e não o foco... O foco deve sempre estar no conjunto temperamento do indivíduo + satisfação das necessidades naturais + liderança por parte dos guardiões + recompensa dos comportamentos adequados.
Se algum desses fatores não estiver bem adequado, nenhuma punição funcionará mesmo!
O profissional deve saber o motivo real que o leva a partir pra cima dos carros (pode ser drive de caça, pode ser medo, pode ser dominância, pode ser tudo misturado!) e partir para o plano de ação que difere principalmente quando o medo está envolvido. Muitas vezes tenho que medicar os animais, principalmente em casos de medo.
Então as PUNIÇÕES NÃO são a solução dos problemas ok? Usadas inadequadamente podem causar ansiedade e trauma, além de se tornarem um tiro no pé! Tando as P+ quanto as P-.
Bjins e obrigada!
Adorei o tema e o seu artigo, Alessandra, parabéns!
ResponderExcluirObrigada Silvia!!! Sempre que quiser e puder, participe conosco! :)
ResponderExcluirAcredito eu que apos tanto tempo a usuaria não ira ver minha mensagem, isto é no caso da Aline, so levo em resalva que o ato de dar comida ao cão é reforço e não punição, Skinner acreditava que o reforço é sempre mais eficaz que as punições...
ResponderExcluirPorém leve em consideração que ele nao aceitava os petiscos na rua por algum motivo, o mais provavel era que ele ja estava satisfeito, isto é se quer mesmo treinar seu cão devera ser mais rijida e calcular aquilo que deve ser feito, exemplo deixe o cão sem comer pelo menos umas 12hrs+ antes de passear com ele, tendo em conta um dado tempo que lhe evoque a fome, logo os petiscos o irão interresar, porém resalto que voce lhe de um petisco somente apos o carro passar e voce segurar ele firme pra não avançar no carro, isto é dado que ele não avançou no carro por intervençao sua ou não voce o reforça com comida segundos depois...
acredito que pro seu caso se bem trabalhado, bem pensado e elaborado na pratica de certo..., se não der certo pode sempre tentar outros meios...
Olá! Procuro sempre atualizar por aqui, não se preocupe. É que agora temos um novo endereço www.bichosempreguica.com.br
ResponderExcluirEntão. No caso do apetite, o ideal é entrar com uma dieta. É bom para o animal já que cães não foram feitos para acumular gordura e para o interesse dele no ambiente. Jamais submeter o animal a jejum. Isso é completamente desnecessário que o animal já estiver no peso ideal. Então bastará proceder com o treinamento antes das refeições.
Outra coisa é que não é certeza que o petisco será irresistível. Cada treinamento pode pedir uma recompensa diferente. O bom treinador sabe captar qual é a recompensa para aquele dado momento e então terá grande sucesso.
A recompensa só poderá ser dada quando o animal não tentou se comportar da maneira inadequada e não depois de ser corrigido ou impedido. O que mais importa alem da ação em si é a motivação. É o estado interno.
Bom é isso aí!